quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

PARA QUE VIVEMOS?

Qual é o sentido da vida?

Todos buscam o sentido da vida. O filósofo Blaise Pascal (1623-1662) dizia que essa era uma tendência natural do ser humano. Ver um sentido nas coisas significa achar que a vida tem uma causa, uma finalidade, uma razão. É ter um motivo para viver, algo para realizar - ser feliz, construir um mundo melhor, amar as pessoas e promover a justiça entre elas.

Mesmo assim, a pergunta é difícil e as respostas são muitas, às vezes contraditórias. Para uns, quem dá sentido à vida humana é Deus; para outros, é o próprio ser humano; alguns, ainda, acreditam que a vida simplesmente não tem sentido.

Mas a maioria das pessoas não consegue viver sem algum tipo de ideal ou sem buscar um sentido para a vida. As religiões procuram justamente explicar que sentido é esse. Com isso, elas trazem conforto, esperança, bem-estar, felicidade, otimismo e ações positivas.

Hoje muitos pensadores dizem que não adianta qualquer busca de sentido. E um grande vazio tem penetrado na mente das pessoas. O ser humano deixou de acreditar em si mesmo. Depois de acontecimentos terríveis no século XX, como a Segunda Guerra Mundial, a bomba atômica, a miséria de tantos povos, os grandes ideais e as utopias humanas foram colocados em xeque. A ideia de construção de um mundo melhor esvaziou-se para muita gente. Cresceu também o número de pessoas que não acreditam em Deus e aumentou o índice de depressão e angústia. A confiança no futuro ficou abalada. 

Será a vida apenas dor, infelicidade, pobreza, guerra pela sobrevivência, tédio? Nada se pode fazer para mudar? Não há nenhuma esperança?

Vários filósofos foram responsável por essas ideias sobre o nada e a desesperança. Um deles foi Arthur Schopenhauer (1788-1860); outro foi Friedrich Nietzsche (1844-1900). Ambos afirmam que a existência não tem sentido, razão, finalidade. Segundo Nietzsche, deveríamos evitar querer dar uma razão para as coisas, que são todas caóticas. Para ele, o ser humano é animal e a vida a ser vivida é a do desejo, da morte, do sofrimento, da mudança. As pessoas fortes aceitam isso com alegria. Para Nietzsche, acreditar em algum ideal mais alto é fraqueza.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ser amigo da sabedoria

Outra maneira de enxergar Deus

Pitágoras segundo Cícero

Marcos Túlio Cícero (106 a 43 a.C.) foi um filósofo e orador romano que recebeu influência dos filósofos gregos. Neste trecho de um de seus livros, ele conta como nasceu a palavra filosofia e qual a função do filósofo.

Pitágoras teria tido uma conversação sábia com Leão, o tirano de Filonte. Como este último admirasse seu gênio e sua eloquência, indagando em que arte se apoiava, Pitágoras teria declinado do epíteto de "sábio" e respondido que não conhecia nenhuma arte, mas que era "filósofo". Leão espantou-se com esse termo novo e perguntou quais eram as diferenças entre os filósofos e os outros homens. Pitágoras respondeu que a vida humana era comparável a essas assembléias às quais a Grécia inteira comparecia, por ocasião dos grandes jogos: alguns vêm aí para lutar e para obter uma coroa; outros tratam de fazer comércio; outros, enfim, não se interessam nem pelos aplausos, nem pelo ganho, mas vêm para ver, simplesmente, o que se passa nos jogos. Do mesmo modo, na vida, alguns são escravos da glória, outros do dinheiro, mas outros, mais raros, observam com cuidado a natureza: são esses que chamamos de amigos da sabedoria, de filósofos.

(Cícero. Tusculanas. Citado em: Pitágoras e os pitagóricos. São Paulo, Paulus, 2000.)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Declaração Solene dos Povos Indígenas do Mundo

No ano de 1975, representantes dos povos indígenas do mundo inteiro reuniram-se em Port Alberni, no Canadá, e fizeram a seguinte declaração:

Nós, povos indígenas do mundo, unidos
numa grande assembleia de homens sábios,
declaramos a todas as nações:
Quando a terra-mãe era nosso alimento
quando a noite escura formava nosso teto, 
quando o céu e a lua eram nossos pais, 
quando éromos irmãos e irmãs,
quando nossos caciques e anciãos
eram grandes líderes,
quando a justiça dirigia a lei e a sua execução,
Aí, outros civilizações chegaram!
Com fome de sangue, de ouro, 
de terra e de todas as suas riquezas, 
trazendo em uma mão a cruz
e na outra a espada.
Sem conhecer ou querer aprender
os costumes de nossos povos, 
nos classificaram abaixo dos animais.
Roubaram nossas terras e nos levaram
para longe delas, transfomando em escravos
"os filhos do sol".
Entretanto, não puderam nos eliminar, 
nem nos fazer esquecer o que somos,
porque somos a cultura da terra e do céu,
Somos de uma Ascendência milenar
E somos milhões,
E mesmo que nosso universo inteiro seja destruído 
NÒS VIVEREMOS
Por mais tempo que o Império da morte!

(Conselho Mundial dos Povos Indígenas, Port Alberni, 1975. In: Katsue H. Zenun e Valéria
                  M.Adissi. Ser índio hoje: a tensão territorial. São Paulo, Edições Loyola, 1998.)

Falando de... sociedade

A propriedade é um roubo?

Vávios pensadores discutiram e questionaram o mandamento que diz "não furtarás", recebido por Moisés. Na visão de alguns deles, para que esse mandamento seja realmente cumprido, não deverá haver no mundo um só necessitado e injustiçado.
De acordo com o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778), a propriedade privada, isto é, particular, foi criada pelo primeiro ser humano que teve a ideia de cercar uma parte da terra e dizer "isto é meu"... e encontrou pessoas ingênuas o bastante para acreditar nisso. Se alguém tivesse arrancado as cercas e gritado: "Não! Impostor!", teria livrado a humanidade de inúmeras injustiças, crimes, guerras, assassinatos, desgraças e horrores.
Alguns pensadores afirmam que a propriedade é um roubo. Segundo eles, o fim da propriedade privada traria o fim das desigualdades sociais e o nascimento de uma nova forma de sociedade, na qual a igualdade (social e econômica), a liberdade e a solidariedade seriam uma realidade humana. Já houve sociedades assim. As comunidades indígenas brasileiras, por exemplo, desconhecem a propriedade particular. Os primeiros cristãos também pensavam dessa maneira e formaram a primeira comunidade cristã com base na propriedade coletiva. (Atos 2, 42-47)



Este poema nos traz algumas reflexões sobre o tema:

Quem é que rouba quem

Deus nos mandou não roubar, 
Roubar o quê? E de quem?
Roubar é subtrair
Alguma coisa de alguém

Em geral, todos condenam
O ladrão de mão armada...
Mas quem roubou o ladrão,
Que não tem direito a nada?

Querem a pena de morte
(E Deus mandou não matar!)
para quem caiu no crime
e vive só de furtar...

Mas e quem tem ouro imenso
Feito de trabalho escravo
E não ajuda o empregado
Nem com sorriso ou centavo?

Pecado é roubar um tênis?
E quem tem terras a arar,
Não produz e priva o pobre
Do direito de plantar?

A criança que vagueia
Na rua, pedindo esmola,
É bandida! E o ladrão
Que não a fez ir à escola?

As prisões estão lotadas
De criminosos, ladrões, 
De tantos, foi a injustiça
Que esfriou os corações!

Disse Deus: não furtarás!
E ainda ouvimos sua voz!
Mas não disse só a uns poucos, 
Dirigiu-se a todos nós!

Só quando todos no mundo
Tiverem justiça em vida, 
Veremos a lei de Deus
Inteiramente cumprida!

(Poema de Dora Incontri)


terça-feira, 2 de outubro de 2012

CONTANDO UM CONTO...

O velho e seu neto

Era uma vez um velho muito doente. Todas as vezes que se sentava à mesa para comer, mal conseguia segurar a colher. Derramava sopa na toalha. O filho e a nora ficavam com nojo. Acabaram colocando o velho para comer atrás do fogão. E o pior é que nem lhe davam bastante comida. O velho olhava aquilo com muita tristeza. Certo dia, suas mãos tremeram e a tigela caiu e se quebrou. A mulher brigou com ele. Ela comprou uma tigela de madeira e o fez comer ali. Um dia, o neto do velho, que era um menino de quatro anos, estava brincando com uns pedaços de pau. O pai perguntou o que estava fazendo. O menino respondeu que um cocho, para o papai e a mamãe poderem comer quando ele crescesse. O marido e a mulher se olharam e começaram a chorar. Depois daquele dia, o avô voltou à mesa e passou a comer junto com todos e, quando derramava alguma coisa, ninguém dizia mais nada.

( Irmãos Grimm. Recontado em: William J. Bennett. O livro das virtudes. Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1995.)


O Couro de Boi

Essa história é uma música antiga (gravada pela primeira vez em 1954, por Palmeira e Biá) e muito conhecida. Composta por Teddy Vieira (autor do Menino da Porteira) em parceria com Palmeira, a música Couro de Boi retrata a situação de abandono dos idosos pela própria família.


Couro de Boi
Composição: Palmeira/Teddy Vieira

Conheço um velho ditado, que é do tempo dos agáis.
Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai.
Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar,o velho, peão estradeiro,
com seu filho foi morar.
O rapaz era casado e a mulher deu de implicar.
"Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá".
E o rapaz, de coração duro, com o velhinho foi falar:
Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir
Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair
Leve este couro de boi que eu acabei de curtir
Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir
O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu
Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu
Metade daquele couro, chorando ele pediu
O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando partiu o couro no meio e
pro netinho foi dando
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando.
Pra quê você quer este couro que seu avô ia levando
Disse o menino ao pai: um dia vou me casar
O senhor vai ficar velho e comigo vem morar
Pode ser que aconteça de nós não se combinar
Essa metade do couro vou dar pro senhor levar


Em 1955, Palmeira e Biá escreveram aquela que seria a Resposta do Couro de Boi, ao qual o filho arrependido chora sobre o túmulo do pai e pede seu perdão.


Respeite os idosos, você também será um.

sábado, 1 de setembro de 2012

Deus, fale comigo!


A história a seguir, citada pelo teólogo Leonardo Boff em um de seus artigos, é de um indígena Cherokee norte-americano.




Um homem sussurrou: Deus, fale comigo.
E um rouxinol começou a cantar
Mas o homem não ouviu.
Então o homem repetiu:
Deus, fale comigo!
E um trovão ecoou nos céus
Mas o homem foi incapaz de ouvir.
O Homem olhou em volta e disse:
Deus, deixe-me vê-lo
E uma estrela brilhou no céu
Mas o homem não a notou.
O homem começou a gritar:
Deus, mostre-me um milagre
E uma criança nasceu
Mas o homem não sentiu o pulsar da vida.
Então o homem começou a chorar e a se desesperar:
Deus toque-me e deixe-me sentir
que você está aqui comigo…
E uma borboleta pousou suavemente
Em seu ombro
O homem espantou a borboleta com a mão e desiludido
Continuou o seu caminho triste, sozinho e com medo.
 (JB Ecológico, junho de 2002, p. 46).

 (Texto extraído do site da Agência de Informação Frei Tito para a América Latina, http://www.adital.org.br)

DE OLHO NO BRASIL

Deus é Brasileiro?

Deus, é claro, não tem nacionalidade. O jornalista Gilberto Dimenstein discorda da ideia de que o Todo-Poderoso seja nacional, mas reconhece que , em certos aspectos, podemos considerar o Brasil um país abençoado.
Leia o que diz ele:

Privilegiados com tantas riquezas naturais, crescemos ouvindo que Deus era brasileiro. Mas são tantas e tão profundas nossas mazelas e chagas, incompatíveis com o nível de desenvolvimento econômico, que dificilmente deveríamos considerar a brasilidade divina - somos, afinal, uma nação de desprotegidos.
Quando assistimos ao tumulto gerado por Bin Laden, a ponta mais visível e doentia dessa mescla explosiva de radicalismo político e fanatismo religioso, vemos, porém, que, sob certo aspecto, o Brasil é abençoado.
Somos vítimas cotidianas da estupidez da miséria, mas, por enquanto, estamos livres da estupidez dos conflitos regionais, religiosos e raciais, ingredientes que estão por trás do temor de que os ataques ao Afeganistão detonem nova onda de atentados terroristas e agucem crises internas em países árabes.
Não temos conflitos de fronteiras com um único país. Sabendo quanta custa e quanta energia demandam conflitos desse gênero - basta ver os bilhões gastos por nações pobres como Índia ou Paquistão, por exemplo -, podemos dizer que, apesar de tudo, somos abençoados.

(Gilberto Dimenstein. "Deus não é brasileiro, mas somos abençoados".
Extraído de: Folha online, 9 out. 2001. http://www1.uol.com.br)

Veja um trecho do filme "Deus é brasileiro", 2002, direção de Carlos Diegues. Columbia TriStar Pictures.




Cansado dos erros cometidos pela humanidade e decepcionado com sua criação tão cheia de defeitos, Deus resolve tirar férias. Para isso, precisa encontrar um santo que se ocupe de suas obrigações. Resolve procurá-lo no Brasil, país religioso, mas que nunca teve um santo seu, reconhecido oficialmente.